Pesquisar

sábado, 19 de dezembro de 2015

NATAL
O de Dilma será "entre trincheiras"


O Supremo Tribunal Federal anunciou três decisões favoráveis à presidenta Dilma Rousseff na tentativa de salvar o seu mandato no fim da semana.
Pelo entendimento da maioria dos ministros da Corte, cabe à maioria simples do Senado decidir pela abertura ou não do processo de impeachment na Casa, independentemente do resultado na Câmara. A comissão de deputados responsável pela análise do documento deverá ser eleita em votação aberta. E a que foi montada em conluio entre opositores e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não é válida.
Em contrapartida, disse o STF, Dilma não tinha direito a defesa antes de o presidente da Câmara aceitar o pedido de impedimento, como defendia o PC do B, autor da ação. E Cunha seguirá à frente do processo, como não queria parte dos governistas – parte comemorou, já que, com ele no posto, poderá dizer que se trata de uma batalha entre Dilma e um deputado acusado de corrupção.
Dos cinco pontos questionados, três e meio são favoráveis ao governo, mas a “vitória” de Dilma anunciada por aí possui todas as aspas possíveis. Ela de fato se livrou do rito articulado pelo inimigo declarado, mas terá de mobilizar uma operação de guerra para ganhar a queda-de-braço.
Será um Natal entre trincheiras.
Para se livrar de um achacador da Câmara enroscado com a Justiça ela precisará se aliar a um achacador do Senado enroscado com a Justiça. Não se trata de trocar seis por meia dúzia, já que o segundo é menos dado a arroubos kamikazes que o primeiro, mas não deixa de ser arriscado – e, por óbvio, simbólico da realpolitik que apodrece almas e propósitos em Brasília.
A aposta é reforçar uma estratégia já identificada (e lamentada) por Michel Temer em sua carta à presidenta: dividir o PMDB. Coincidência ou não, o partido que lançou seu último candidato a presidente na eleição de 1998 (Orestes Quércia, 1,24% dos votos) enfrenta uma espécie de metástase justamente no momento em que observa no impeachment uma janela para o seu protagonismo. As células 
impeachment uma janela para o seu protagonismo. As células peemedebitas se dividem e se espalham sem qualquer controle de sua liderança maior.
Em outras palavras, o presidente da sigla que há pouco fazia um apelo à união nacional parece incapaz de pacificar o próprio partido.
Pelo contrário: é agora alvo da ala do partido no Senado, capitaneada por Renan Calheiros, que fez circular entre os colegas uma mensagem na qual o colega era chamado de “mordomo de filme de terror”, como descrevia Antônio Carlos Magalhães. 
Sem alarde, o presidente do Senado colocou em votação (e aprovou) um requerimento que pede ao Tribunal de Contas da União uma investigação sobre os decretos assinados pelo vice-presidente que autorizaram a abertura de crédito orçamentário sem aval do Congresso – tecnicamente, os mesmos erros que levaram a titular da cadeira a responder a um processo de impeachment. Nesse ínterim, a presidenta viu o aliado Leonardo Picciani ser reconduzido à liderança do PMDB na Câmara.
Não se sabe exatamente o que move Calheiros, mas de certo ninguém ali é besta de tirar onda de herói, como cantava um falso maluco.
Eduardo Cunha sabe que tem pouco tempo no cargo, mas promete quebrar ossos de quem surgir à sua frente. Suas manobras para evitar um processo de cassação mergulharam o Conselho de Ética da Câmara num interminável Dia da Marmota, e só não notou a estratégia para atrapalhar as investigações na Lava Jato quem passou os últimos meses dormindo.
Qualquer um, no entanto, teria tempo de limpar as gavetas nesse período diante da crônica do mandado de busca e apreensão anunciado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário