Pesquisar

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

CRIME ELEITORAL

Empresa de motorista que recebeu R$ 25 milhões está entre os principais fornecedores do PT

Uma das empresas que mais recebeu dinheiro da campanha da presidente Dilma Rousseff tem como sócio um motorista com salário de R$ 2 mil. A Focal Confecção e Comunicação embolsou R$ 23,9 milhões pelo fornecimento de material gráfico e montagem de palanques, embora tenha capital social de apenas R$ 30 mil. A firma é de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e a despesa com ela só foi menor do que a registrada com o marqueteiro João Santana. Prestações de contas de eleições passadas mostram que a Focal é uma antiga fornecedora de campanhas petistas. Notas fiscais da empresa foram consideradas irregulares por técnicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que examinaram as contas da campanha de Dilma.
A participação de Elias Silva de Mattos, que era motorista até o ano passado e recebia cerca de R$ 2 mil por mês, no quadro societário da empresa foi divulgada ontem pelo jornal “Folha de S.Paulo”. Elias passou a fazer parte da firma em novembro de 2013 com uma participação de R$ 3 mil do valor total da empresa. A outra sócia é Carla Regina Cortegoso, com cota de R$ 27 mil.
Carla é filha do empresário Carlos Cortegoso, que apareceu nas investigações do mensalão em uma lista entregue pelo publicitário Marcos Valério à CPI do Correios, ao Ministério Público e à Polícia Federal como um dos recebedores de dinheiro (R$ 400 mil) do esquema. Na época, o operador do mensalão, um dos condenados que cumpre pena em regime fechado, disse que o repasse à Focal era para pagar pela venda de camisetas ao PT na campanha.
Nas últimas eleições, o PT tem sido o principal cliente da empresa. Neste ano, dos 23 candidatos que declararam despesas com a Focal, 21 são do partido — entre eles o candidato ao governo de São Paulo Alexandre Padilha e a ex-ministra e candidata ao governo do Paraná Gleisi Hoffmann. Os outros dois são os deputados Arnaldo Faria de Sá (PTB) e José Luiz Penna (PV). A campanha de Dilma registrou gastos de R$ 23,9 milhões com a empresa; as demais, juntas, R$ 1,6 milhão.
CASA NOS FUNDOS
Uma equipe do Jornal O GLOBO esteve na sede da Focal e no endereço residencial de Elias, ambos em São Bernardo do Campo. No entanto, ninguém foi encontrado para comentar o caso. Na empresa, onde funciona uma gráfica, duas pessoas em duas entradas diferentes disseram que Carlos, Carla e Elias não se encontravam. Um funcionário passou o número do telefone da administração. Em todos os contatos, a secretária informou que nenhum dos três estava, anotou recado, mas não houve retorno.
Elias mora em uma casa de fundos, em um bairro na periferia de São Bernardo. A moradora da residência da frente informou que o vizinho sai para trabalhar cedo e só volta à noite. Segundo ela, ele mora sozinho. Chama a atenção, no portão de entrada para os fundos, uma pequena câmera colocada na parte superior.
A reportagem também tentou contato por telefone com Carla, sem sucesso.
À “Folha”, Elias disse que não estava “preparado para falar” sobre a empresa e, num desabafo, afirmou que sabia que a Focal “ia virar um transtorno” para a sua vida.
Carlos Cortegoso foi o único a dar entrevista à “Folha”, apesar de não ser sócio oficial da empresa. Segundo ele, “todo mundo tem o direito de ascender na escala social mediante o trabalho e competência”.
O tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, deputado estadual Edinho Silva (PT), confirmou a relação antiga entre a Focal e o PT e disse que a empresa recebeu pagamentos porque prestou serviços de montagem de palanques e de material gráfico para a reeleição da presidente.
— Essa empresa fornece serviços para o PT desde que o partido existe. O Carlão (Carlos Cortegoso), dono da Focal, que é de São Bernardo do Campo, monta palanques e faz serviços gráficos não só para o PT, mas para outros partidos também — afirmou Edinho.
“Virou devassa contra o PT”
Quanto à presença de um motorista entre os sócios da firma, o deputado defendeu que não cabe à equipe de campanha conhecer detalhes do quadro de sócios de um fornecedor antes de contratá-lo.
— Não quero mexer nisso. Um tesoureiro de campanha não tem como saber quem é o sócio de cada uma das centenas de empresas que prestam serviço. A Focal prestou serviços, apresentou notas das despesas e foi paga pelos valores apresentados. Para mim, isso é o suficiente. Não será por isso que o TSE rejeitará nossas contas — argumentou Edinho.
Para o tesoureiro da campanha de Dilma, não há ilegalidade nas contas.
— Virou devassa contra o PT — reclamou.
Com informações do jornal O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário