EUA preveem El Niño mais violento em décadas, afetando também o Brasil
Um sinal é o tornado que arrasou, em abril, a cidade de Xanxerê, em Santa Catarina, onde os ventos chegaram a 260 km/h
Xanxerê (SC): tornado matou duas pessoas, feriu 97 e deixou 600 desabrigadas. A cidade sofreu sua maior tragédia - Sirli Freitas / Agência RBS/21-4-2015
Um cartão-postal do inferno se desenha para o próximo verão. Ele mostra uma colossal mancha vermelha no Oceano Pacífico e representa, segundo as agências climáticas dos Estados Unidos e da Austrália, o fortalecimento do El Niño, o fenômeno que semeia seca, calor e tempestade planeta afora. Dizem as agências, pode ser o mais avassalador em 50 anos. Se estiverem certos, um super El Niño. A mancha vermelha sinaliza o aquecimento anormal da água do Oceano Pacífico, marca registrada do El Niño. No Brasil, pesquisadores discordam e não acreditam que ganhará tanta potência. Mas o fato é que ele já está entre nós.
Há sinais do El Niño nas chuvas torrenciais que desde abril castigam o Sul do Brasil. A única coisa boa do saco de maldades de dimensões planetárias do “menino do tempo” foi tirar do sufoco hidroelétricas do Sul do Brasil. Mas as benesses param aí. Já começa a chover demais para a agricultura. E junto com os períodos de chuva prolongada vieram algumas das piores tempestades dos últimos anos na região.
CHUVA EM VEZ DE FLORES
O exemplo mais notório é o tornado que arrasou a cidade de Xanxerê, em Santa Catarina, em 20 de abril. Uma análise recém-concluída pelo coordenador do Programa de Pós-Graduação em Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (RS) Ernani Nascimento, um dos maiores especialistas em tempo severo do país, indica que os ventos chegaram a 260 km/h, o que coloca o tornado de Xanxerê como um dos mais violentos já registrados no Brasil, atrás apenas do de 2005 em Indaiatuba, São Paulo.
No Brasil, o El Niño afeta principalmente as regiões Sul, com chuvas torrenciais, e Nordeste, com o agravamento da seca. Ele também costuma elevar as temperaturas de forma geral em boa parte do Brasil. Invernos quentes, primaveras tórridas e verões absolutamente escorchantes.
O Sul costuma ser afetado primeiro. A seca no Nordeste vem depois, numa tentativa do planeta em se reequilibrar. No Sudeste, uma zona de transição, o cenário é incerto. Só quando entrar setembro — e, com ele, não as flores, mas as chuvas da primavera —, será possível saber se continuará a seca que atormentou a região este ano e no ano passado.
UM ESCUDO QUE NINGUÉM QUER
Tudo indica que sim, segundo o climatologista José Marengo, chefe de pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Até agora, as chuvas não ajudaram muito o Sudeste, e o Sistema Cantareira continua em 14,6%, ou seja, abaixo do volume morto, mostram medições da Unesp.
Todavia, frisa Marengo, o calor e a seca anômalos não se devem propriamente ao El Niño, mas a fatores como o aquecimento simultâneo do Atlântico e do continente — fenômeno que já acontece e não dá mostras de que vá arrefecer. Esse aquecimento produz área de alta pressão, um escudo indesejado contra frentes frias e, dessa forma, chuvas. Marengo não vê motivos para acreditar que este El Niño será o pior das últimas décadas. Mas reconhece que ele poderá agravar o que já está ruim.
— Os verões e os invernos estão ficando mais quentes, uma provável consequência das mudanças climáticas globais. Há dias de frio extremo no inverno, mas são pontuais. A tendência é de elevação da temperatura. E, se você colocar um El Niño, fica mais quente ainda — explica.
Nos últimos dias, a Administração de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês) e o Serviço de Meteorologia da Austrália emitiram boletins com alertas sobre a possibilidade de o atual El Niño se intensificar e permanecer significativamente ativo até o fim da primavera de 2016 no Hemisfério Norte (outono no Brasil). Isso o tornaria especialmente longevo.
— El Niños costumam durar cerca de um ano e aí começam a perder força — observa o climatologista do Inpe Manoel Gan.
A professora de meteorologia da UFSM Nathalie Tissot Boiaski, que estuda o El Niño no Brasil e tem acompanhado as tempestades deste ano, observa que o fenômeno começou em novembro do ano passado. O que causa apreensão é a possibilidade de ele continuar a se intensificar.
— Este El Niño tem mostrado tendência de continuidade. No fim de julho, completamos cinco meses de elevação de cerca de 1 grau Celsius no Pacífico. Vimos fenômenos mais intensos, como os de 1982/83 e 1997/98. Mas isso não significa que este não será poderoso. Porém, temos que esperar — afirma.
Com informações de O Globo..
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