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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


O "bicho" criado em casa
O PT faz acordo para levar um denunciado e um in­vestigado pelo Ministé­rio Público às presidên­cias do Senado e da Câmara, finan­cia partidos para atraí-los à base governista, correligionários de altas patentes são condenados à prisão e, segundo o presidente do partido, a “oposição apartidária” é que desmo­raliza a política. Que tal?
Isso para falar do presente, sem contar o passado de uma vida dedica­da a desancar Deus, o mundo e seu Raimundo. Os correligionários de ho­je eram os “picaretas”, “ladrões” e “bandidos” de ontem, contra os quais o PT prometia combate ferrenho quando, e se, chegasse ao poder.
Pois há dez anos chegou e é o que se vê: não bastasse se aliar, festeja os pio­res tipos, elevando o que antigamente formava o baixo clero à condição de cardinalato do Congresso.
E com a tranquilidade dos puros, mas a sagacidade dos astutos, Rui Fal­cão, o presidente do PT, acusa Ministé­rio Público e meios de comunicação independentes de tramarem contra a ati­vidade política.
Oferece lições que dariam ensejo a preocupações quanto à sanidade do professor, não flertassem firmemente com o ridículo. Diz Falcão: “São esses a quem nomeei que tentam interditar a política no Brasil. Quando desqualificamos a política a gente abre espaço para aventuras golpistas. A gente abre espa­ço para experiências que no passado le­varam ao nazismo e ao fascismo”.
Faltou acrescentar um fator essen­cial na desconstrução do valor democrá­tico numa sociedade: o populismo (ovo da serpente do autoritarismo), ao qual o PT se dedica com afinco no estímulo ao culto da personalidade e à desmoralização da massa crítica.
A ofensiva é clara: o petista ataca a “oposição apartidária” porque sabe que a partidária está dominada, nas cordas, sem força para preservar o indispensável exercício do contraditório sem o qual restam o silêncio, a concordância, a eliminação do debate, a alternância.
E o objetivo é esse mesmo: exercer o poder sem ser contraditado em nada e por coisa alguma, a fim de que apenas a voz do poder da vez prevaleça.
O PT, contudo, deve tomar cuidado com seus impulsos de eliminação por­que, quando não há oposição de lado algum, as posições antagônicas ten­dem a nascer e a crescer dentro da situação. E aí, alertam os que já vive­ram essa situação em passado não muito distante – mais especificamen­te no governo Fernando Henrique, personificada na figura de Antonio Carlos Magalhães – instala-se um ver­dadeiro inferno.
É hoje o dia. O Senado, que é um páli­do retrato do que já foi e agora caminha rumo ao lixo da História, perde autono­mia, autoridade moral e também legitimidade na representação dos Estados.
Há 21 suplentes entre os 81 parla­mentares da Casa. É isso: um quarto do Senado exerce mandato sem ter recebido um voto.
A suplência ali é composta por dois nomes indicados pelo titular da cha­pa e escolhidos entre amigos, paren­tes e financiadores de campanha que não passam pelo crivo das urnas.
Na maioria dos casos assumem a cadeira devido a licenças pedidas pa­ra garantir ao substituto biônico uma temporada no paraíso.
Compressor. O líder do governo no Senado, Eduardo Braga, lá por mea­dos do segundo semestre de 2012 che­gou a pensar seriamente em concor­rer à presidência da Casa.
Chegou a fazer algumas consultas informais sobre sua chance contra o desejo de Renan Calheiros de voltar. Hipótese, na ocasião, que aos de bom senso parecia absurda.
Braga é ovelha desgarrada do gru­po de senadores independentes do PMDB que resiste a se entregar ao Palácio do Planalto e à dupla Calheiros-Sarne
Texto de Dora Kramer
Publicado pelo jornal O Estado de São Paulo

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