Passada a eleição na Câmara, bancada do PMDB já endurece discurso contra Dilma
Deputados peemedebistas se dizem tratados como “office-boys do Poder Executivo” e cobram do novo líder, Eduardo Cunha (RJ), posicionamento como “membros do governo”
Passada a eleição para o comando da Câmara, a bancada do PMDB já subiu o tom das críticas contra a presidenta Dilma Rousseff e o PT. Após a vitória apertada de Henrique Eduardo Alves (RN) para a presidência da Casa , deputados da legenda repetiam pelos corredores que esperavam uma vitória mais consistente, superior aos 271 votos obtidos por ele. Foi em meio a queixas e ataques dos colegas ao Planalto que o novo líder peemedebista na Casa, o deputado Eduardo Cunha (RJ), realizou nesta terça-feira (5) sua primeira reunião com a bancada e viu o que deveria ser um encontro para afagos virar uma sessão de terapia.
As reclamações versaram principalmente sobre o “tratamento diferenciado” recebido em relação a colegas do PT. “Nosso amigos do PT nos acham os companheiros mais necessários e também os mais indesejados”, afirmou Alceu Moreira (RS). “Viramos homologadores de medidas provisórias. Não vim aqui para emprestar o meu dedo para um painel digital. Vim para expressar minhas ideias”, critica.
A falta de uma agenda própria do PMDB também é citada como motivo de irritação dos parlamentares do partido. “Passamos o tempo como office-boys do Poder Executivo”, diz Édio Lopes (RR), puxando o coro dos peemedebistas contra a “traição” sofrida na eleição de Henrique Eduardo Alves.
“Queremos que o governo nos trate como trata o PT. Não somos tratados como governo. Só somos lembrados quando vamos colocar nosso voto nas comissões e no plenário. Aí somos lembrados como governo”, reclama Antônio Andrade (MG).
Poder Online:
Cunha ouviu as reclamações e, ao final da reunião, adotou um tom mais crítico contra o Planalto. “O PMDB não é base, é governo. E isso não significa ser um cordeirinho. O partido vai ser parceiro, mas vai se permitir discordar”, afirmou.
Ministério
A primeira cobrança a tomar corpo é a ampliação do espaço ocupado na Esplanada dos Ministérios. Na reunião de hoje, os peemedebistas reclamaram de ter deixado de disputar as eleições municipais de Belo Horizonte - em apoio a Patrus Ananias (PT-MG), derrotado por Márcio Lacerda (PSB) – em troca de mais uma pasta na administração federal. “Dilma tirou o candidato do PMDB para apoiarmos o Ananias, mas cadê o ministério?”, questiona Darcísio Perondi (RS).
A expectativa é pela nomeação de Gabriel Chalita (SP) para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTi) até a primeira quinzena de março. A negociação está sendo tratada com a presidenta Dilma Rousseff diretamente pelo vice-presidente Michel Temer.
Chalita tem sido muito elogiado por Dilma a portas fechadas com Temer, mas há uma ala peemedebista estranhando a demora na nomeação. “O governo não consulta o Michel”, diz Perondi.
O descontentamento sobra até para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Há peemedebista reclamando que os prefeitos de sua base eleitoral não o procuram mais para pedir emendas parlamentares agora que o programa distribui obras por todo o País. “Esse é o governo mais popular da história, é o nosso governo, mas não sei se levamos o crédito”, avalia o deputado gaúcho.
Hoje, o senador José Sarney (AP) pretende criar uma comissão para debater um tema caro ao Palácio do Planalto: o pacto federativo . A reformulação do modelo de repasses de recurso aos municípios é defendida pelo PMDB, maior administrador de prefeituras no País.
Nas contas do partido, atrelar seu nome a um eventual remodelamento no repasse de verbas da União às cidades pode garantir exposição positiva a seus parlamentares. A defesa da mudança no pacto federativo foi cobrada como principal tópico em uma nova agenda política que o PMDB espera de Cunha. “Nossa principal bandeira tem de ser a reforma do pacto federativo”, defendeu Alceu Moreira.
A reforma fiscal também entrará na lista como capítulo que PMDB defenderá em nome do desenvolvimento regional, enquanto alguns deputados prometem defender a si mesmos. “Tudo o que fazemos aqui é pela nossa eleição”, afirma sem rodeios o mineiro Antônio Andrade.
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