Cipp pode ganhar usina de dessalinização em dois anos
A construção é mais uma opção hídrica, além do reúso de esgoto, para atender às empresas do complexo
Com demanda atual em torno de 2m³ de água, por segundo, com novas empresas em instalação e reduzida reserva hídrica, o governo do Estado estuda medidas alternativas e urgentes para atender ao Cipp |
Em pleno quarto ano de seca, o sexto em algumas regiões do Interior, como a de Crateús e dos Inhamuns, e com prenúncio de mais um ano de El Niño, em 2016, com nova possibilidade de chuvas abaixo da média histórica, o Grupo de Trabalho e Ação (GTA) das Águas do governo do Estado acelera as discussões em torno de novas alternativas de fonte de abastecimento hídrico para atender à população, à agropecuária e ao setor industrial. Para além da transposição das águas do Rio São Francisco, projetos de reúso de efluentes tratados e de dessalinização da água do mar ganham corpo e urgência para atender, sobretudo, ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
"Vamos ter uma usina de dessalinização no Cipp. Essa é uma decisão técnica e política", declarou, na tarde de ontem, a secretária de Desenvolvimento Econômico do Ceará (SDE), Nicolle Barbosa. Segundo ela, t rês empresas especializadas em tecnologias de dessalinização, sendo duas espanholas e uma de Israel, voltarão a ser contactadas ainda esta semana, para retomarem as negociações para estudos e elaboração de projetos na área do Porto do Pecém.
Conforme disse, a solução foi debatida em reunião realizada na manhã de ontem, na sede da SDE, onde estiveram presentes os titulares das secretarias Estaduais de Recursos Hídricos, das Cidades, além de representantes da Cogerh, Funceme e da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), para analisar a atual situação hídrica no Estado.
"O grupo decidiu que precisamos avançar nessa discussão. Chegamos ao limite (hídrico)", declarou Nicolle Barbosa. A perspectiva é que o projeto da usina de dessalinização esteja pronto em dois anos.
Fontes no limite
Dados da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) mostram que os reservatórios do Ceará estão com apenas 19,92% da capacidade hídrica, situação que tende a se agravar se o El Niño, já estabelecido no Estado, se traduzir em mais um ano de seca, em 2016.
Dos 184 municípios cearenses, 67 estão em estado de emergência e 23 em situação de colapso hídrico.
Enquanto isso, o consumo de água bruta e tratada atual na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) consome cerca de 12,5 m³ por segundo, e o Cipp, cerca de 2 m³/segundo.
"Com uma usina de dessalinização, podemos abastecer o Cipp e até a população da região metropolitana, o que nos permitiria liberar a água dos mananciais para a população do Interior e para a agricultura", defende Nicolle. "Para que a economia continue a crescer no ritmo atual, acima da média nacional, essa é uma discussão que tem que avançar. Água é um insumo básico para o desenvolvimento", corrobora o titular da SRH, Francisco Teixeira.
Política pacificada
Dessa forma, para que as indústrias do Cipp não sejam prejudicadas, a proposta é que a usina de dessalinização, antecipa a titular da SDE, amplie em pelo menos mais 2,5 m³/segundo, a vazão de água para o Cipp. Essa vazão, no entanto, poderá chegar até a 10 m³/segundo, dependendo do modelo da planta industrial de dessalinização que for escolhida para a região.
Para Teixeira, a história de seca no semiárido nordestino e as tecnologias disponíveis demonstra que não há mais porque os governos insistirem em manter um modelo de abastecimento hídrico pautado apenas nos mananciais. Segundo ele, a busca por fontes hídricas alternativas já foi pacificado politicamente pelo governo, mas ainda há desafios a superar.
"Temos que pensar nas águas da transposição, - que segundo ele, devem estar chegando ao Ceará, em meados de 2016 -, no Cinturão da Águas, nos sistemas de barragens, nas cisternas, mas não podemos mais ignorar outras tecnologias disponíveis, como o reúso (de esgoto sanitário) e a dessalinização", avalia Teixeira. Ele lembra que Ibiza e Barcelona, na Espanha; Las Vegas e San Diego, nos Estados Unidos, além de cidades na Austrália e Israel já as utilizam como fontes alternativas complementares.
Desafios
Especificamente em relação ao Ceará, ele ressalta, que a implantação de usinas de dessalinização ainda será melhor discutida entre o governo do Estado, investidores e pelas indústrias, que são quem irão pagar a conta do insumo gerado. A discussão é necessária, explica, para que se definam as modelagem institucional e econômica para construção da usina, seja por meio de Parcerias Público Privadas (PPP), Sociedade de Propósito Específico (SPE) etc.
Outra discussão a ser feita gira em torno do modelo de usina mais adequado, se pequenas unidades para atender grupos de empresas, ou se uma grande usina, para atender a todo o Cipp.
"Esse é um arranjo que tem que ser melhor discutido entre os parceiros", informa Teixeira, lembrando ainda, que a fonte de energia - se solar ou eólica - para alimentar a usina é outra discussão a ser realizada.
Com informações do Diário do Nordeste....
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