Carlos Jereissati.
Forçado a assumir as empresas da família aos 17 anos, mostrou talento para os negócios e hoje tem participação importante no setor de telefonia e comanda a rede Iguatemi de shoppings
Durante o governo tucano, ele consumou sua entrada no setor de telecomunicações como um dos cabeças do consórcio que gerou a Oi. Anos depois, no governo petista, ajudou a montar a fusão com a Brasil Telecom que conduziu à então batizada "supertele nacional".
Carlos Jereissati ostenta em sua biografia o papel de protagonista em duas das mais importantes operações empresariais das últimas duas décadas no Brasil – e, o que ainda mais notável, em diferentes ambientes políticos e econômicos. Diferentemente de seu irmão, o ex-governador do Ceará, ex-senador e também empresário Tasso Jereissati (PSDB-CE), Carlos Jereissati jamais enveredou pela política. Os fatos dão a medida do prestígio e da capacidade de articulação de um dos mais influentes empresários do país. Jereissati já nasceu bem sucedido. Forçado a quebrar a casca do ovo prematuramente por conta da morte do pai, o mais velho de seis irmãos assumiu, com apenas 17 anos, um conglomerado de empresas que, naquele momento, reunia uma pedreira, um moinho de trigo e uma das maiores fabricantes de fechaduras do país, a La Fonte.
Já o poder – segundo o filósofo romano Epícteto, um bem perigoso demais para um debutante – não lhe veio por testamento. Foi uma conquista gradativa, para muitos argila que só se fez vaso, de forma definitiva, no leilão do Sistema Telebrás. A película de discrição que revestiu a biografia empresarial de Carlos Jereissati por quase 35 anos rompeu-se naquele julho de 1998. O consórcio encabeçado por Jereissati, Andrade Gutierrez e Inepar, entre outros investidores, deixou o mercado de telefonia mudo, absolutamente perplexo, ao arrematar a concessão da Tele Norte Leste. Não havia no pool uma só empresa de telecomunicações ou sequer um participante razoavelmente familiarizado com o setor. Todos se perguntavam como um grupo de “forasteiros” havia chegado ao controle de uma operadora telefônica com quase 11 milhões de clientes.
Jereissati – o empresário que, até aquele momento, conduzira seus negócios de forma relativamente reservada – estava sob os holofotes. E a carga de luz sobre seus olhos aumentaria consideravelmente nos meses seguintes ao leilão. O escândalo dos grampos do BNDES, que eclodiu quatro meses após a privatização do Sistema Telebrás, descortinou uma suposta manobra para que o banqueiro Daniel Dantas arrematasse a licença da Tele Norte Leste. Pouco tempo depois, Jereissati chegaria a dizer que este foi o momento mais complexo de sua vida empresarial e que pensou em deixar a operadora no auge do episódio dos grampos.
"Pela primeira vez, pensei em ser derrotado", teria dito num rompante de modéstia, ainda que pela metade. Mas, se efetivamente, um dia cogitou sair do baile, voltou atrás. "Seria um grande erro de minha parte", declararia anos depois à imprensa.
Até se notabilizar como um dos principais enxadristas no tabuleiro da telefonia, teve de conviver com a pecha de que estava no jogo apenas de passagem. As cassandras se enganaram. As peças se moveram, na coreografia das mais diversas reestruturações societárias, e Jereissati não arredou o pé. Pelo contrário. Mexeu torres, bispos e rainhas com maestria e avançou, tanto na vertical quanto na diagonal.
Em 2008, uma década após a privatização, Carlos Jereissati consolidou sua posição e seu prestígio no setor ao participar feericamente da delicada cirurgia societária e política que resultou na criação da superoperadora de controle nacional, a partir da associação entre a Oi e a Brasil Telecom.
Atualmente, está sentado sobre uma jazida da telefonia, que se espalha por todo o país, com mais de 74 milhões de clientes e faturamento na casa dos R$ 30 bilhões. Hoje, ninguém mais teria a coragem de considerá-lo um aventureiro.
Um império de shoppings
Aventura mesmo tiveram os Jereissati quando o jovem emancipado a fórceps no mundo dos negócios tomou as rédeas das empresas da família. O Grande Moinho Cearense está nas mãos do grupo até hoje. A fabricante de fechaduras La Fonte foi vendida na década de 90. A pedreira Itatinga, em São Paulo, também não está mais entre os Jereissati. Nem entre eles, nem entre ninguém. Acabou desapropriada no governo de Luiza Erundina.
No entanto, fora a investida no setor de telefonia, nada se compara ao império que Carlos Jereissati ergueu no mercado de shopping centers. Tudo começou em 1966, com uma participação de apenas 2% no Iguatemi, fundado pelo construtor Alfredo Mathias e considerado por muitos o primeiro shopping center do país.
Durante mais de uma década, Carlos Jereissati permaneceu restrito a esse cantinho societário. Em 1979, com o auxílio de um empréstimo da Caixa Econômica Federal, comprou, em um só pacote, não apenas o Iguatemi, mas 12 prédios da família Mathias no Portal do Morumbi. A dúzia de arranha-céus foi logo para o balcão. Reza a história que Jereissati vendeu todos os imóveis em apenas 12 horas. Talvez fosse o caso de alguém avisar ao Guiness Book. O empresário ficou apenas com o centro comercial encravado em um antigo terreno dos Matarazzo na Faria Lima. Nascia, assim, a administradora de shopping centers Iguatemi, com a qual Jereissati daria o grande salto que o levaria bem além de pedreiras, fechaduras e moendas de trigo.
Hoje, a Iguatemi detém participação em 13 shoppings, que, no ano passado, faturaram mais de R$ 8,2 bilhões. Nos últimos anos, Carlos Jereissati tem se afastado da linha de frente de boa parte dos negócios da família, a começar pelo principal deles. Desde 2005, o comando da Iguatemi Shopping Centers está nas mãos de seu rebento, Carlos Jereissati Filho. Jereissati, o pai, vem se dedicado cada vez mais a sua porção telefônica.
E hoje, com Sergio Andrade, forma a grande dupla articuladora do setor pelo lado do empresariado nacional. Com a marca habitual que lhes trouxe tantos dividendos: fazer política sem partido em prol das áreas em que trafegam, dos negócios que comandam e dos empregos que ajudam a manter.