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quarta-feira, 20 de julho de 2011



SAÚDE PÚBLICA

Faltam leitos no Ceará para pacientes com HIV

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Não bastasse o drama de conviver com o HIV positivo, cearenses nessa situação precisam contar com a sorte para receber atendimento adequado. No Estado, faltam leitos para atender os pacientes.

No Hospital São José, única unidade de referência para internação de portadores de Aids, 60% dos leitos são ocupados por estes pacientes. Para se ter uma ideia, das 100 vagas na unidade, apenas 32 são para esse público. Contudo, hoje há mais de 60 internados, ou seja, o dobro.

Com a falta de leitos os soropositivos precisam disputar o mesmo espaço com, por exemplo, pacientes que têm meningite e tuberculose, doenças oportunistas que podem ser fatais para um portador de HIV.

Cobranças
Na manhã de ontem, integrantes do Fórum de ONGs /Aids do Estado do Ceará estiveram reunidos na Escola de Saúde Pública durante o Seminário sobre Qualidade de Vida das Pessoas Vivendo com HIV/Aids, para debater questões fundamentais e cobrar providências urgentes no âmbito social e da saúde no Ceará.

"Os leitos do São José são insuficientes. É comum ver pacientes em macas nos jardins e nos corredores. Estamos vendo os números crescendo a cada dia e a gestão precisa fazer alguma coisa para reverter isso", afirma Francisco Erdivando Oliveira, coordenador da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS Ceará e Nordeste.

Segundo ele, a situação é tão grave que o hospital não está nem recebendo novos pacientes para internação. Ainda conforme Oliveira, foram construídos novos 20 leitos, entregues no mês passado. Contudo, nenhum foi destinado a portadores de HIV positivo. Aponta a falta de leitos disponíveis no município como uma das causas da superlotação da unidade

O coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Manoel Fonseca, confirmou a insuficiência de leitos no Estado diante da grande demanda de portadores de HIV positivo. Segundo ele, a solução para essa situação seria a disponibilidade de leitos nos hospitais municipais, principalmente, para pacientes portadores de HIV positivo com infecções oportunistas, por exemplo, tuberculose e pneumonia.

"É preciso estabelecer uma política municipal para atender os pacientes com Aids. Caso contrário, vamos continuar com macas nos corredores ou nos jardins", alertou. Fonseca comprometeu-se em conversar com o secretário da saúde do Estado, Arruda Bastos, para marcar um a reunião urgente com os integrantes do Fórum ONGs Aids no Ceará, pacientes que dependem do atendimento hospitalar na Capital, e representantes da Secretaria Municipal de Saúde. Outra promessa de Fonseca é desenvolver um mapa sobre óbitos causados pelo vírus da Aids no Estado para facilitar a aplicação de políticas públicas.

Segundo o infectologista Anastácio Queiroz de Souza, diretor do Hospital São José, os 100 leitos da unidade estão ocupados e 60 % deles por pacientes portadores de HIV. Contudo, Queiroz afirma que a unidade continua recebendo toda e qualquer demanda de pacientes do Estado.

"Evidentemente que em alguns momentos, dependendo da capacidade, damos prioridade para pacientes mais graves, e por isso somos obrigados a acomodá-los nos corredores", diz.

Ainda segundo Anastácio Queiroz, os problemas dos pacientes portadores de HIV positivo no Ceará vão além da carência de leitos, pois envolvem também questões sociais. Conforme o infectologista, uma grande quantidade de pacientes não adere o tratamento, possue condições sociais precárias e não tem recurso para alimentação adequada.

"São questões que não temos como equacionar sozinhos e que afetam diretamente a saúde desses indivíduos", alerta.

Conforme Renata Mota, coordenadora municipal de DST/ Aids e Hepatites Virais, não há leitos específicos para portadores de HIV no Município. Contudo, alguns pacientes já estão sendo internados no Gonzaguinha do José Walter e no Hospital Nossa Senhora da Conceição, no Conjunto Ceará. Além disso, ela afirma que cinco ambulatórios municipais funcionam diariamente.

ALIMENTAÇÃO
Prefeitura atrasa em seis meses envio de cesta básica
Dois quilos de feijão, quatro quilos de arroz, um de sal, um de farinha, dois pacotes de macarrão, um café e uma margarina. Pode parecer pouco para quem tem a mesa farta todo dia. Mas, para um portador de HIV positivo que depende de uma cesta básica mensal, não ter a ajuda durante seis meses, pode lhe custar a vida. É o que está acontecendo com 1.200 famílias cadastradas no Programa de Segurança Alimentar pertencente a Política de Apoio Integral ao Portador de HIV em Fortaleza, que desde janeiro não recebem o benefício do Município.

Um deles é o catador Raimundo Lopes, que, para sobreviver, ganha R$ 25,00 por semana recolhendo e vendendo materiais recicláveis. Portador do vírus da Aids desde 1989, ele conta que o programa de assistência alimentar é o que o mantêm vivo. "Não se vive só de medicamentos, precisamos de comida também. Com o que ganho não consigo fazer as três refeições". Segundo ele, o que o ajuda é um trabalho voluntário realizado no Centro de Convivência Madre Regina, destinados a portadores de HIV, onde consegue almoçar e lanchar.

Segundo Erdivando Oliveira, coordenador da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids, além da falta de abastecimento, a quantidade de cestas não é suficiente. "São apenas 220 cestas básicas por mês para 1200 famílias. Isso é um absurdo". Segundo Renata Mota, coordenadora municipal de DST/Aids e Hepatites Virais, o problema da falta de abastecimento alimentar foi devido a irregularidades na licitação. Contudo, segundo ela, o problema foi regularizado e na última sexta-feira foram enviadas 178 unidades para a Associação dos Voluntários do Hospital São José. "O problema era pontual. Essa semana ainda entregaremos mais 70 cestas básicas".

KARLA CAMILAESPECIAL PARA CIDADE

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