Secretário Francisco Bezerra confia na sequência de queda da violência!
FOTO: KIKO SILVA
Seis meses após assumir a máquina da Segurança Pública do Ceará, o coronel PM Francisco José Bezerra tem o que comemorar. Embora que ainda tímidos, os índices dos assassinatos começaram a cair em todo o Estado e, em especial, na Região Metropolitana de Fortaleza. O declínio dos registros de crimes contra a vida está na ordem de 13,5 por cento em comparação a igual período de 2010.
Na direção inversa, mas de forma positiva, os índices de apreensões de armas de fogo aumentaram 47 por cento. De janeiro a junho do ano passado, foram 1.725 armas confiscadas pelas polícias Civil e Militar. Em 2011, já são 2.531.
Mudanças
Ao assumir o cargo, no começo deste ano, Bezerra, que no governo anterior foi o chefe da Casa Militar, recebeu do governador reeleito Cid Gomes a incumbência de baixar os números estratosféricos de homicídios, especialmente os com características de execuções sumárias. Eles foram a ´eterna dor de cabeça´ do antecessor de Bezerra, o delegado federal aposentado Roberto Monteiro.
Logo nos primeiros dias à frente da SSPDS, Bezerra revogou uma ordem de Monteiro e determinou que fosse, imediatamente, remontado o Serviço Reservado do Comando-Geral da Polícia Militar e, ainda, aumentou o efetivo da Coordenadoria Integrada de Inteligência, órgão ligado diretamente ao seu gabinete. A ordem é atuar com Inteligência para prender assassinos e, assim, acabar com a sensação de impunidade que estimulava os homicidas.
Com a retomada dos setores de Inteligência nas companhias e batalhões da PM, os assassinatos começaram a cair. E aqueles que eram praticados, seus autores rapidamente identificados ou mesmo presos em flagrante.
Números
Segundo os registros da SSPDS, fornecidos à Reportagem na semana passada, na Grande Fortaleza a redução dos homicídios foi de, em números precisos, 12,95 por cento na Grande Fortaleza (Capital e municípios metropolitanos). Especificamente na RMF, a queda foi de 33,64 e, no Interior, 13,43 por cento.
Bezerra luta agora em duas frentes. Na administrativa, busca solucionar a insatisfação que toma corpo dentro da Polícia Civil, diante da greve que foi deflagrada no último dia 2, mas que acabou sendo considerada ilegal pela Justiça.
Na operacional, organiza estratégias junto com o comandante geral da PM, coronel Werisleik Ponte Matias, e com os oficiais da Coin para conter o avanço de assaltos contra agências e postos bancários no Interior. Neste ano, já foram 11 casos em que cidades de pequeno e médio porte sofreram nas mãos de quadrilhas possuidoras de armas de grosso calibre e até explosivos, como dinamite.
Grupo
Com exclusividade, Bezerra revelou ao Diário do Nordeste que irá colocar em prática uma nova estratégia para reprimir a ação dos assaltantes de banco no Interior. Há duas semanas, foi criado o Comando Tático Rural, batizado de Cotar. Com características semelhantes ao Cotam (Comando Tático Motorizado), o novo grupo de elite pertence ao efetivo do Batalhão de Polícia de Choque (BpChoque) e vai contar, inicialmente, com um efetivo de 48 homens, especialmente treinados para o embate com os criminosos.
"São policiais que estarão bem treinados e fortemente armados. Eles irão para o enfrentamento", avisa Bezerra. Ainda, segundo ele, o grupo iniciará nesta segunda-feira (11) o treinamento dentro do Batalhão de Polícia de Choque e contará com oito viaturas (modelo Hilux) já encomendadas pelo Governo e que serão recebidas em até 40 dias.
"Esse pessoal vai trabalhar nas áreas mais sensíveis do Estado, onde há os registros dos assaltos a bancos", completa o secretário. Cada equipe será chefiada por um oficial. Serão quatro grupamentos que irão para o Interior com a missão de, segundo Bezerra, "bater de frente´ com a bandidagem. "Eles usarão armamento pesado e vão contar com o apoio de helicópteros da Ciopaer na caça aos assaltantes", afirmou.
DrogasRetornando ao assunto dos homicídios, Bezerra explica que um dos trabalhos dos setores de inteligência está voltado para a localização e prisão de traficantes de drogas, isso porque, segundo ele, "de 99 por cento dos crimes de execução sumária o tráfico de drogas está por trás" Ele ressalta que as apreensões de entorpecentes estão aumentando e que, em breve, haverá outras ainda maiores.
MAIOR POLICIAMENTOEstratégias emergenciais adotadas
O Estado do Ceará segue uma tendência nacional de queda nos índices de homicídios, fato registrado em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas, para que os homicídios diminuíssem, o secretário de Segurança Pública montou estratégias emergenciais. Uma delas, estabelecida logo nas suas primeiras reuniões com os assessores, foi a decisão de ampliar o número de patrulhas do grupamento Ronda de Ações Intensivas e Ostensivas, o Raio. Além disso, determinou que o Ronda do Quarteirão partisse para uma ação mais ofensiva no combate à criminalidade, sem perder sua característica de Polícia comunitária.
Com a ampliação do Raio, praticamente todos os bairros da Capital e Municípios da região metropolitana passaram a contar com a presença diária das equipes de policiamento ostensivo com motos. Os números de abordagens quintuplicaram com a ação de dez equipes do Raio no turno diário e outras 20 no período noturno.
Bairros
Bezerra explica que recebeu da gestão anterior uma herança positiva, a implantação pelo ex-secretário Roberto Monteiro de uma célula de estatística e análise. Um professor universitário de Economia, especialista no assunto, foi contratado pelo Estado e montou um complexo banco de dados que tem permitido a SSPDS mapear as áreas com maior incidência criminal, especialmente aquelas que apresentam altas taxas de homicídios e assaltos (roubos).
"A estatística permitiu que tivéssemos a constatação de que, do total de 114 bairros de Fortaleza, 21 deles respondiam por 68 por cento dos registros de homicídios. Foi com este número na mão que traçamos as primeiras operações envolvendo o Raio, o Choque (Batalhão), as companhias de cada bairro e a inteligência através da Coin", diz o secretário.
Os bairros a que se referiu o secretário são aqueles já mostrados em reportagens especiais do Diário do Nordeste sobre os bolsões da violência armada na Grande Fortaleza (RMF).
Bom Jardim, Barra do Ceará, Messejana, Edson Queiroz, Genibaú, Vila Velha, Vicente Pinzón, Praia do Futuro, Planalto Ayrton Senna, Pirambu, Granja Portugal, Rosalina, Conjunto Palmeiras, Jangurussu, Antônio Bezerra, Conjunto São Cristóvão, Pajuçara (em Maracanaú) e Jurema (em Caucaia) fazem parte deste cenário da violência cotidiana na Grande Fortaleza. E foi para lá que, conforme Bezerra, foram planejadas e estão voltadas operações constantes da Polícia Militar.
Bezerra afirma que, apesar dos avanços já apresentados, "muita coisa ainda precisa ser feita" para a redução da criminalidade a níveis toleráveis. Para o Interior, segundo ele, os projetos são de ampliação do efetivo dos batalhões e companhias. Cerca de 400 PMs que atuavam na Capital já foram remanejados para as cidades interioranas. Com o concurso que está previsto ainda para este ano, mais três mil policiais militares serão contratados.
Também é previsto concurso para 740 inspetores (policiais civis), podendo este número chegar até o dobro, ou seja, 1.480 novos investigadores, e mais 177 profissionais para a Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce).
FOCOViolência no ´Território da Paz´ ainda é intensa
Uma ´pedra no sapato´ da Segurança Pública parece impossível de ser removida. Trata-se da violência armada no ´Território da Paz´, uma imensa área intitulada de Grande Bom Jardim, formada por cinco grandes bairros (Bom Jardim, Granja Portugal, Granja Lisboa, Siqueira e Canindezinho) e onde estão encravadas quase 50 comunidades como Malveira, Carioca, Alto da Paz, Campo do Águia, Nova Canudos, Alto da Pimenta, Açude da Viúva, Vertical, Jardim Fluminense, Santa Cecília, Cearazinho, Urucutuba, Pantanal, Sete de Setembro, Jatobá, Santo Amaro, São Vicente, Cacimbinhas, Tatumundê, Menino Deus, Novo Mundo, Dom Lustosa e Mela-Mela.
Em 2010, nada menos que 178 pessoas foram vítimas de homicídio no ´Território da Paz´. Levantamentos feitos pela Reportagem indicam que, nos seis primeiros meses de 2011 foram registrados 68 casos.
Operações
Por conta da violência ali instalada, operações de desarmamento e saturação são realizadas diariamente pelo efetivo da 4ªCia/6ºBPM, com apoio do Raio, Cavalaria e Cotam.
FERNANDO RIBEIROEDITOR DE POLÍCIA